sexta-feira, 25 de julho de 2014

Em busca do silêncio (por Rogério Rocha)

Por Rogério Henrique Castro Rocha

Num mundo povoado de estímulos sensoriais, distrações, sons, barulhos, é cada vez mais raro ao ser humano voltar-se a uma prática de extrema simplicidade, porém, esquecida pelas pessoas de nosso tempo: a experiência do silêncio.

Se nos perguntássemos agora o quanto de nossas vidas dedicamos à nossa interioridade, às reflexões mais íntimas, à meditação feita na paz do silêncio, a maioria certamente responderia que muito pouco ou quase nada. Mas, afinal, o que há de tão importante no silêncio? Que benefícios pode nos trazer?

Em tempos de furiosa confusão de imagens, sons e ideias, numa civilização pautada no que é novo e ao mesmo tempo efêmero, o ritmo acelerado de nossas existências é preenchido com toda espécie de coisas. Algumas necessárias e quase que obrigatórias, outras dispensáveis e até mesmo sem sentido.

Numa sociedade tecnologizada, fundada na objetividade, no pragmatismo e no padrão universal de comportamentos guiados por necessidades artificiais, forjadas na base de um mundo de afazeres, distrações e construtos aptos ao consumo rápido e rasteiro, a vida silenciosa da interioridade é um tema que não ocupa lugar de destaque no rol de interesses de nossa mais exacerbada mundanidade.

Pelo contrário, é seu oposto, o barulho, que verdadeiramente impera.

Os muitos sons que nos cercam dão prova disso. As vociferações radiofônico-televisivas, o palavrório sem fim das futilidades midiáticas, a massiva urgência de novos e mais estrondosos meios de se chamar a atenção (e para isso os megafones, as poderosas estruturas sonoras, etc.) povoam nossos ouvidos fragilizados. 
 
Decibéis de ruídos citadinos são produzidos no desassossego dos ambientes das ruas, praças e centros de convívio humano. Com isso, paulatinamente, nos esquecemos de cultivar instantes de solidão positiva, de paz, de serenidade. Instantes nos quais deveríamos nos devotar ao exercício pleno do silêncio.

É na serenidade do silêncio que buscamos encontrar nossa essência, nossa verdade derradeira. É no íntimo de uma prece sem palavras, de um canto sem frases ou melodia, de um refletir sem arroubos de tagarelices que podemos fazer brotar os segredos perdidos.

As culturas ancestrais, as escolas de mistérios, as grandes filosofias do oriente, as religiões primitivas e os mestres sapienciais há muito nos ensinam a importância do calar. 
 
Os monastérios como lugares de profundo burilar da interioridade, calcados sobretudo no silêncio dos que oram e laboram. A calma imensa dos claustros, a paz intensa dos campos, dos desertos, a nos conduzir em uma viagem de interiorização, de conhecimento reflexivo, de um intenso desvendar de saberes, ideias, visões.

Só a prática silenciosa de uma escuta atenta pode nos conectar com o universo que existe dentro e fora de nós. 
 
A meditação silente nos treina para a profundidade dos sentidos não lidos e não expressos na linguagem ensurdecedora dos ruídos do cotidiano, que estrangulam os raros momentos de contemplação. A distração contemporânea de uma vida voltada aos barulhos nos tolhe de experimentar o gosto sereno de uma paz interior constantemente negligenciada.

Até mesmo os que oram, nestes tempos de estridência, preferem os brados ecoantes dos templos abarrotados ao sossego de uma prece muda, porém sincera, intensa, introspectiva, feita no recesso de um quarto, em consonância com as mais puras vibrações divinas.

Enfim, o ato do silêncio está na gênese de toda questão, no âmago de todo espanto, no brotar de cada descoberta. 
 
Grandes ideias surgiram do pensamento que escutava apenas seus próprios sussurros. Os iluminados atingiram a perfeição que buscavam justo nas longas jornadas ao centro de seus íntimos temores, de suas dúvidas, seus anseios e aspirações.

O silêncio tem sempre algo a nos mostrar. Traz em si muitos ensinamentos. Equilibra, harmoniza e potencializa nossas capacidades. Energiza nosso ser. Vincula-nos a algo maior e sagrado. 
 
Portanto, não nos custa nada experimentar alguns momentos de silêncio em nossas vidas. Reservar pequenos instantes para nossos próprios pensamentos. Um tempo à parte para a viagem mais especial que podemos fazer. Um passeio que nenhum pacote turístico jamais poderá oferecer. Uma terapia tão eficaz e enriquecedora quanto qualquer divã de psicanálise. 

Em meio ao caos circundante, busquemos então o silêncio que em nós ainda habita.

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