Por Rogerio Henrique Castro Rocha
Num
mundo povoado de estímulos sensoriais, distrações, sons, barulhos, é cada vez
mais raro às pessoas se voltarem para uma prática de imensa simplicidade, porém,
esquecida pelos seres de nosso tempo: a experiência do silêncio.
Se
nos perguntássemos agora o quanto de nossas vidas dedicamos à nossa
interioridade, às reflexões mais íntimas, à meditação feita na paz do silêncio,
a maioria certamente responderia que muito pouco ou quase nada. Mas, afinal, o
que há de tão importante no silêncio? Que benefícios pode nos trazer?
Em
tempos de furiosa confusão de imagens, sons e ideias, numa civilização pautada
no que é novo e efêmero, o ritmo acelerado de nossas existências é preenchido
com toda espécie de coisas. Algumas necessárias e quase obrigatórias, outras
dispensáveis e até mesmo sem sentido.
Numa
sociedade tecnologizada, fundada na objetividade, no pragmatismo e no padrão
universal de comportamentos guiados por necessidades artificiais, forjadas na
base de um mundo de afazeres, distrações e construtos aptos ao consumo rápido e
rasteiro, a vida silenciosa da interioridade é um tema que não ocupa lugar de
destaque no rol de interesses de nossa mais exacerbada mundanidade.
Pelo
contrário, é seu oposto, o barulho, que verdadeiramente impera.
Os
muitos sons que nos cercam dão prova disso. As vociferações
radiofônico-televisivas, o palavrório sem fim das futilidades midiáticas, a
massiva urgência de novos e mais estrondosos meios de se chamar a atenção (e
para isso os megafones, as poderosas estruturas sonoras, etc.) povoam nossos
ouvidos fragilizados.
Decibéis
de ruídos citadinos são produzidos no desassossego dos ambientes das ruas,
praças e centros de convívio humano. Com isso, paulatinamente, nos esquecemos
de cultivar instantes de solidão positiva, de paz, de serenidade. Instantes nos
quais deveríamos nos devotar ao exercício pleno do silêncio.
É
na serenidade do silêncio que buscamos encontrar nossa essência, nossa verdade
derradeira. É no íntimo de uma prece sem palavras, de um canto sem frases ou
melodia, de um refletir sem arroubos de tagarelices que podemos fazer brotar os
segredos perdidos.
As
culturas ancestrais, as escolas de mistérios, as grandes filosofias do oriente,
as religiões primitivas e os mestres sapienciais há muito nos ensinam a
importância do calar.
Os
monastérios como lugares de profundo burilar da interioridade, calcados
sobretudo no silêncio dos que oram e laboram. A calma imensa dos claustros, a
paz intensa dos campos, dos desertos, a nos conduzir em uma viagem de
interiorização, de conhecimento reflexivo, de um intenso desvendar de saberes,
ideias, visões.
Só
a prática silenciosa de uma escuta atenta pode nos conectar com o universo que
existe dentro e fora de nós.
A
meditação silente nos treina para a profundidade dos sentidos não lidos e não expressos
na linguagem ensurdecedora dos ruídos do cotidiano, que estrangulam os raros
momentos de contemplação. A distração contemporânea de uma vida voltada aos
barulhos nos tolhe de experimentar o gosto sereno de uma paz interior constantemente
negligenciada.
Até
mesmo os que oram, nestes tempos de estridência, preferem os brados ecoantes
dos templos abarrotados ao sossego de uma prece muda, porém sincera, intensa, introspectiva,
feita no recesso de um quarto, em consonância com as mais puras vibrações divinas.
Enfim,
o ato do silêncio está na gênese de toda questão, no âmago de todo espanto, no
brotar de cada descoberta.
Grandes
ideias surgiram do pensamento que escutava apenas seus próprios sussurros. Os iluminados
atingiram a perfeição que buscavam justo nas longas jornadas ao centro de seus íntimos
temores, de suas dúvidas, seus anseios e aspirações.
O
silêncio tem sempre algo a nos mostrar. Trás em si muitos ensinamentos.
Equilibra, harmoniza e potencializa nossas capacidades. Energiza nosso ser. Vincula-nos
a algo maior e mais sagrado.
Portanto,
não nos custa nada experimentar alguns momentos de silêncio em nossas vidas.
Reservar pequenos instantes para nossos próprios pensamentos. Um tempo para a
viagem mais especial que podemos fazer. Um passeio que nenhum pacote turístico
jamais poderá nos oferecer. Uma terapia tão eficaz e enriquecedora quanto qualquer
divã de psicanálise.
Em meio ao caos, busquemos o silêncio então.
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